segunda-feira, 26 de maio de 2008

Faixa 131 (ratas, ratos e ratazanas)

Reza a lenda que corria o ano da graça de 1948 quando um jornalista, João Paulo Freire de seu nome, lançou a maldição sobre Mafra. Num artigo publicado no Jornal de Notícias surgia o rastilho de uma bomba com contornos nunca explicados. O jornalista descrevia o que era estar numa das janelas dos torreões do Palácio de Mafra e ver as “enormes ratas” a passear no fosso que circunda o monumento. Esse momento de inspiração – que muitos atribuem a uma hipotética e nunca provada encomenda da gigante Bayer – faria com que esta terra se tornasse nacionalmente conhecida. Afinal que outro sítio neste Portugal precisaria de ser evacuado num raio de 40 quilómetros para que os potentes raticidas fizessem efeito nesses bichos bestiais, capazes de feitos horríveis como é o caso dos dois “magalas”? Reza outra lenda, que deriva da primeira, que um soldado já meio bebido caiu no fosso do Palácio, um companheiro de armas que o acompanhava, juram as fontes ouvidas nesta lenda, escuta-o gritar e pedir socorro. O amigo valente do azarado corre para o socorrer, desce pelos calabouços e sai por uma porta que dá acesso ao fosso onde, ali chegado, ainda vê os “ratos do tamanho de cães” devorarem o amigo. Dizem os relatos da época que o horror foi tanto que o segundo soldado tentou fugir, sem êxito já se vê, e assim duas mortes ficaram associadas aos bichos. Foi um ápice até aparecerem “estórias” que aproveitavam coisas reais que bem vestidas davam força à invenção. Ele era os cozinheiros da Escola Prática de Infantaria que atiravam todos os dias os restos da comida para os subterrâneos para evitar que aquela massa desconhecida de ratazanas invadisse Mafra, era a história dos soldados que foram enviados para os subterrâneos para salvar os dois primeiros, eram valentes e foram até, pasme-se, munidos de um lança-chamas. A ferocidade desses roedores do Inferno foi tal que nem o lança-chamas escapou, devorado pelos roedores com fome de Tyrannosaurus Rex. Mediante tal espectáculo, os anos que se seguiram foram de míngua para a mascote oficial da EPI, o celebérrimo “Capitão Sem Cabeça”, que vagueava pelos corredores a lançar o pânico nos mancebos acabadinhos de chegar à casa que os faria homens.
Foi preciso esperar uns anos para que o mito se dissolvesse na espuma dos dias. Ainda assim, em 1989, um livro de Banda Desenhada intitulado “O Império das Almas”, de Louro e Simões, volta a pegar na lenda, misturando-a com uma velha crença, sobretudo maçónica, de que a Mafra e ao seu Palácio estaria destinado o comando do Quinto Império. Mais 16 anos passados e um requerimento deferido, o Estado-Maior do Exército autorizava uma ida aos subterrâneos, coisa rara e na altura bastante festejada quer na EPI, quer no Palácio. Em 1995 eram tiradas fotografias de “ratas” assustadas, de “ratazanas” do tamanho de ratazanas, de subterrâneos onde, ao invés de colónias com milhares de ratos “cegos”, se viam umas meras dezenas desses bichos peludos. Em 2008 já são poucos os que procuram a lenda porque ela foi morrendo, vítima de uma invenção que só podia ganhar crédito através do medo de outros tempos. Ainda assim para os seguidores de uma boa história fica a dica: continua a existir a misteriosa lenda dos mais de 40 quilómetros de túneis subterrâneos que partem do Palácio para desembocar em locais tão longínquos como a Ericeira ou nas Águas Férreas (Tapada Nacional de Mafra), no segundo caso é verdade verdadinha, já no primeiro vá-se lá saber quantas, dessas “enormes ratas”, lá estarão escondidas…

1 comentário:

teimosita disse...

As lendas valem o que valem, não é verdade? Por mim, até gosto de saber algumas lendas relacionadas com cidades ou vilas que conheço ou visito.
Sobre as enormes ratazanas de Mafra, lembro-me de uma notícia num jornal diário (não sei datas, mas seguramente foi depois de 1965) em que se descrevia essa situação e se acrescentava que era tão comum que até as crianças já brincavam com elas, as ditas ratazanas... Pasme-se!... :)