segunda-feira, 5 de maio de 2008

Faixa negra (silêncio que envergonha)


Voltemos atrás no tempo: 'O Palácio Nacional de Mafra é uma obra magnânime e destinada a ficar nos anais da engenharia e arquitectura mundial. Aqui se podem, ou podiam, ouvir os sons extraídos de um dos melhores carrilhões do mundo. Já lá vão dois anos e a instabilidade da estrutura de 36 toneladas do carrilhão sul continua à espera que o dinheiro que, eventualmente, sobre da construção dos estádios para o Euro 2004, evite uma derrocada cada vez mais real'.

Quando escrevi isto, em 2002, confesso que estava longe de pensar em voltar a ter de agarrar no tema seis anos volvidos, para, infelizmente, marcar oito anos no calendário da ausência dos Carrilhões de Mafra. Na altura escrevi também que, de acordo com as informações disponíveis, se apontava para 2005 o arranque das obras de substituição das traves de madeira que suportam as 36 toneladas de metal.
Há uns dias encontrei a directora do Monumento de Mafra e, mais uma vez, fiz a inevitável pergunta 'Já temos novidades? Não sei o que lhe diga, precisamos de 200 mil contos para arranjar os carrilhões', respondeu. Percebi logo ali que estamos perante uma obra de Santa Engrácia e que Portugal se arrisca a manter em silêncio um Carrilhão, único no Mundo, até que caia. Dir-me-ão que 200 mil contos, um milhão de euros na moeda nova, se arranjarão. Dir-vos-ei eu que se é possível que o Palácio Nacional de Mafra passe semanas sem telefones porque se avariou a central telefónica e não há dinheiro para a mandar arranjar; se é possível que o IPPAR tenha sido extinto e em seu lugar criado o IGESPAR sem qualquer resultado prático a não ser menos dinheiro disponível; se é possível que, na internet, a página do IGESPAR continue a dizer que será criada assim que possível, remetendo o utilizador para as páginas dos institutos já extintos, fico obviamente com muitas dúvidas.
Perante tudo isto só me fica a revolta e a tristeza pela forma imbecil como este, e outros Governos, tratam da nossa história e do nosso património. E o facto permanece: se podemos gastar milhões de euros a construir estádios de última geração, em Leiria (cerca de dois mil adeptos de média nas bancadas), no Algarve (nem uma equipa no escalão principal do futebol português), no Porto (o Bessa ainda vai dar uma dor de cabeça a muita gente), como é possível que museus tenham de ficar fechados por falta de funcionários ou que o único contacto com um dos maiores monumentos nacionais seja, durante semanas, o fax ou o e-mail?