quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Faixa 212 (hasta siempre)


Raramente o percebemos mas às vezes acontece. Ontem percebi claramente o privilégio que é estar a dois passos de distância da última grande voz ainda viva do projecto Buena Vista Social Club. Do alto dos seus 78 anos, Omara Portuondo encheu a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa de uma ternura única.
Há uns anos tive um primeiro privilégio, o de estar no Coliseu dos Recreios e ver Ibrahim Ferrer e Ruben Gonzalez, nessa noite o pianista soprou 80 velas de aniversário. Ele e Ibrahim, bem como Compay Segundo já morreram. Resta Omara Portuondo para recordar uma descoberta tardia, uma ideia de Ry Cooder transformada em documentário por Win Wenders e muito justamente oscarizado.
Ontem senti as lágrimas a quererem saltar para os meus olhos. Omara Portuondo continua com uma grande voz mas o peso da idade faz-se sentir, e de que maneira. A dignidade de ela perceber isso e nos deixar perceber também, é uma coisa que não se consegue explicar, só mesmo vendo e ouvindo.
Por puro egoísmo dou comigo a pensar: Estas vozes nunca deveriam fechar os olhos.