sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Faixa 2

Não sei se já repararam ou se concordam mas a faixa 2 da maior parte dos álbuns da época (meio do anos 70 até mil novecentos e troca o passo) era por norma uma faixa fantasma. Eram muito raros os discos que traziam uma faixa dois bestialmente pujante – ainda hoje esta norma permanece, agarrem aí nos jornais do dia (por exemplo) e vejam o que é que a página dois lá traz.
Num tempo em que os Tops nacionais eram conquistados pelo “pimba” europeu um programa de rádio na Comercial de nome Rock em Stock mudava a face do país. Corrijam-me se a memória me atraiçoa: entre 1983/4 e 1987 (pelo menos) eram duas horas do “bom e novo rock” que entre as 16 e as 18 horas mostravam o que de mais novo havia neste pedaço. Ali se estrearam muitos nomes do rock nacional pela mão de Luís Filipe Barros, ali surgiram muitos nomes que o passaram a ser depois de por ali passarem. Era sem dúvida um mundo diferente, sem internet, sem P2P, restava uma rádio nacional com duas horas dedicadas à coisa. Fruto deste trabalho, não tenho qualquer dúvida, muitas das rádios piratas surgidas na segunda metade dos anos oitenta ostentavam orgulhosas, pelo menos um programa, dedicado a este género musical. Outros tempos, tempos em que por exemplo, em Mafra uns jovens absolutamente malucos faziam experiências com um pequeno transmissor de FM a partir de um quarto dando origem à RJM (Rádio Jovem de Mafra), tempos em que a TSF (Telefonia Sem Fios) era também pirata e emitia para Lisboa com a sua antena metida num carro para mais facilmente poder fugir à polícia, dizia-me na altura um dos criadores deste projecto, João Canedo, que foi dos melhores tempos da sua vida.
Voltando à metáfora, se a Bimotor era a igreja mãe o Rock em Stock era a bíblia. Foi também neste contexto que bandas como os Xutos e Pontapés cresceram, com o Rock Rendez Vous e o Johnny Guitar como base, com o Rock em Stock como satélite e com toda uma pirataria radiofónica (por força da falta de legislação na época) a servir de repetidor. Se nunca ouviram então oiçam se conseguirem, Palmas Gang, dele mesmo Jorge Palma ao vivo no Johnny Guitar, com uma canção extraordinária “Portugal, Portugal”. O gang do Palma não era, felizmente, como aqueles que hoje vemos nas notícias a “limparem-se” uns aos outros, era o Zé Pedro, o Flak, o Kalu e o Alex, ou seja, uma deliciosa desbunda entre Xutos e Palma que deu um disco histórico gravado ao vivo em 1993. É uma daquelas relíquias que quem tem guarda religiosamente.
Jorge Palma continua a ser hoje um dos nossos grandes escritores de canções e há uns dias no youtube descobri uma gravação recente feita na estação de metro do Cais do Sodré, a 20 de Setembro, e que serviu para comemorar a Semana Europeia da Mobilidade. Quatorze anos depois continua a ser um prazer ouvir “Ai Portugal Portugal”, se for a primeira vez que ouvem percam um bocadinho porque garanto que vale a pena.

1 comentário:

fantasma disse...

Xutos? Chamaste? A melhor banda de Portugal, desde sempre.
Gosto muito do Palma, isso também nem se discute.