sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Faixa 20 (coisas de fim-de-semana)

Ano do Senhor: 1989
Local: Mafra
Denominação aproximada no Geomafra: Ali em frente ao “calhau”

Os programas de discos pedidos eram moda, ou melhor, eram um imperativo em qualquer rádio local que se preze. No caso de Mafra, entre as 17 e as 18 horas, eram servidos em doses industriais os pedidos da audiência. Enquanto novato no sector calhou-me em sorte – tipo tourada – os Discos Pedidos para a minha estreia no mundo radiofónico. Estávamos no final da era do vinil, dos pratos, dos leitores de cassetes, dos gravadores de fita, mas os gostos esses eram absolutamente refinados: Queria ouvir o José Malhoa com o 24 rosas; aiiiii pode ser o Trio Odemira com aquela da igreja; o Marco Paulo já alguém pediu?; Queria ouvir a nova da Joana… desculpe mas hoje já a pediram minha senhora, quer escolher outra? Ahhhh… pode ser uma ao vosso gosto – e neste momento fazia-se luz, acendiam-se os máximos, fazia-se alvoroço, corria-se em direcção à sala dos discos para arranjar aquilo que era o nosso prémio: AC/DC, Whitesnake, Ramones, Rui Veloso (que pouca gente pedia na altura) lá apareciam: E agora um pedido da Maria, directamente do Boco para os seus tios que hoje fazem 25 anos de casados e pimba, lá se fazia a festa. Olhando para trás eu reconheço que era uma coisa meio infantil mas foi o que foi e, felizmente, recebi poucas reclamações.
E lembrei-me hoje disto porque vi isto aqui no Corta-Fitas com a devida vénia ao João Villalobos. Os Ramones estão sempre no meu Top 10 devido a algumas coincidências, a maior delas ter ouvido uma música deles nos créditos finais do filme Pet Sematary, filmado a partir de um livro de Stephen King. Demorei ainda uns bons oito anos a encontrar a dita canção, ainda hoje quando a oiço a minha mulher, simpaticamente, acha que sou maluco (e se ela tem paciência), as minhas gatas escondem-se, bufando-me em protesto e eu lá volto uns bons 18 anos atrás no tempo.



P.S. Quem souber o que é o “calhau” faça favor de dizer.

7 comentários:

Ulisses disse...

ótima banda, pena que se foi.

Leonor disse...

Eu sei, mas não digo ;-)

POS disse...

Do pouco que conheço de Mafra, só um calhau me ocorre:

«Estava Baltasar há pouco tempo nesta sua nova vida, quando houve notícia de que era preciso ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra muito grande que lá estava, destinada à varanda que ficará sobre o pórtico da igreja, tão excessiva a tal pedra que foram calculadas em duzentas as juntas de bois necessárias para trazê-la, e muitos os homens que tinham de ir também para as ajudas. Em Pêro Pinheiro se construíra o carro que haveria de carregar o calhau, espécie de nau da Índia com rodas, isto dizia quem já o tinha visto em acabamentos e igualmente pusera os olhos, alguma vez, na nau da comparação.»

Hélder Franco disse...

ahahah... caro pos anda perto, assim que tiver tempo, espero que esta noite, aqui ficará a famosa história do "calhau".

Leonor disse...

POS, há muita gente que vem a Mafra paraver esse "calhau", mérito do Saramago, se não ninguém daria conta dele.

POS disse...

É verdade, Leonor. Eu mesmo, quando visito o palácio e atravesso aquela galeria paro sempre a olhar para o chão da varanda. Literatura deve ser isso, ou seja, dar voz às pedras que não têm voz :-)

Leonor disse...

E é mesmo, Pedro, eu que vivo aqui há tanto tempo já dei por mim a olhar para a "lasca", salvo seja ;-)