quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Faixa 229 (cats)

Logo eu que durante a maior parte da minha juventude nunca liguei a gatos. Ser filho de caçador é ter bichos com o nome de Titaucha, Tarzan, Escurinho, Lili ou Calminha, cães de caça devotos ao seu dono, brincalhões inveterados e fiéis como ninguém.
Descobri os gatos através de um felino com nome - e porte - real, D. Duarte, gato vetusto já para lá dos seus 70 anos (em comparação com a idade de um qualquer humano que se preze). A paixão foi rápida: um animal que tanto nos ronrone como nos dê um chega para lá é um mistério apetecível. Em minha casa, já tive o Ernesto e o Fidel - adivinhem de onde veio a ideia -, o Xico - europeu comum que, tal como eu, tinha a mania de gostar de viajar e assim chegou o dia em que apanhou boleia no carro de um vizinho e não mais voltou. Na falta de um gato cá na casa, eis que a minha querida M.L. - se fosse só L. ela não iria gostar - viu uma gatinha linda na loja de animais. Baptizada de Lolita pela sua pequenez mas feminilidade felina tornou-se a matriarca da família, dando à luz uma Guidinha e um Jobim - grande António Carlos - que seis meses depois se viria a revelar ser uma Ruiva, linda e grande, igualzinha ao seu pai, Pirolito - Piro para os amigos. Um gatarrão que, continuo a achar, devia ter nascido cão e com melhor sorte em relação aos donos que lhe sairam em sorte.
Os gatos são, como podem comprovar, uma parte da minha vida que já não posso - nem quero - apagar. A inveja é um pecado, bem sei, mas ver um gato esticado numa manta quentinha em dia ou noite de trabalho é um crime.

Hoje faço uma homenagem aos gatos em geral, que não têm culpa de ser o que são. No quintal da M.L. apareceu uma gata abandonada, rapidamente baptizada de Xica; revelou-se pequena mas desenvolvida e assim nasceram, livres e selvagens, o Manchinha, o Petit e o Xavier - Xabi para os amigos. Gatos de rua, desconfiados por natureza, foi a custo que a gata acabou por ser esterelizada descontinuando o ciclo rápido de gravidez que leva o gato a tornar-se numa praga. O Manchinha, gato grande e dócil, resolveu ir à vida cedendo aos apelos de ser um macho inteiro. O Petit é o filho da mamã, anda sempre ao lado da Xica. O Xabi, como se costuma dizer, saiu filho do padeiro, um tigrado que nada tem a ver com os outros todos. Gatos de rua ou não, a paixão por eles foi crescendo e, embora selvagens, já fazem parte da casa. O Xabi prepara-se neste momento para morrer, depois de uma infecção - fruto de uma luta de gatos pela fêmea em cio, presumo - já que vai definhando de dia para dia, mas não se deixa apanhar para ser visto por um veterinário.
Hoje dei comigo a pensar que gostaria de ser um pouco mais corajoso e impedir que ele continue a sofrer daquela forma.


5 comentários:

teimosita disse...

Como o compreendo. Hoje nem tenho pensado noutra coisa. Faz-me pena vê-lo assim e a eutanásia não me sai da cabeça... Mas como se ele é bravo? Resta-nos esperar...

Leonor disse...

Não consigo pensar noutra coisa :(

fantasma disse...

Que belo post....
E que pena do Xabi :(

Hélder Franco disse...

O Xabi morreu esta noite. Para ele garantidamente foi melhor.

fantasma disse...

Eu só li o teu post hoje.
Pois acredito que sim :(